Resumo
Buscou-se comparar as condições de vida e a saúde mental (Transtornos Mentais Comuns - TMC) entre mulheres brancas, pardas e pretas na meia idade e velhice no contexto brasileiro. Realizou-se um estudo em ambiente virtual, descritivo, de caráter transversal, com abordagem quantitativa. Uma amostra de conveniência de 545 mulheres na meia idade e velhice do território brasileiro responderam um formulário online com uma Ficha de informações sociodemográficas e o Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20). Foram feitas análises bivariadas (qui-quadrado de independência e teste t de Student) e uma ANOVA fatorial (p≤0,05) e foram calculados os tamanhos de efeito. Os resultados indicaram diferenças por raça/cor quanto à configuração familiar e às condições socioeconômicas, com maior proporção de pretas nos piores índices. Com relação à saúde mental, as mulheres brancas estavam mais protegidas e as pardas e as pretas solteiras apresentaram mais TMC. Os dados indicaram a complexidade envolvida na saúde mental e que o envelhecimento das mulheres pretas, pardas e brancas ocorre em contextos sociais e econômicos distintos. Uma velhice mais digna e saudável para todas as mulheres exige políticas públicas que abordem as disparidades raciais em múltiplos níveis, considerando as especificidades do racismo brasileiro.
Referências
Abrams, J. A., Hill, A., & Maxwell, M. (2019). Underneath the Mask of the Strong Black Woman Schema: Disentangling Influences of Strength and Self-Silencing on Depressive Symptoms among U.S. Black Women. Journal Sex Roles, 80, 517-527. https://doi.org/10.1007/s11199-018-0956-y
Abrams, J. A., Maxwell, M., Pope, M., & Belgrave, F. Z. (2014). Carrying the world with the grace of a lady and the grit of a warrior: Deepening our understanding of the Strong Black woman schema. Psychology of Women Quarterly, 38(4), 503-518. https://doi.org/10. 1177/0361684314541418
Almeida, L. C. G., Santos, J. M. S., Brasil, B. P., Paim, J. M., Santos, R. S., & Santana, J. D. (2022). Vulnerabilidade de mulheres negras na pandemia da COVID-19. Saúde Coletiva, 12(73), 9547-9562. https://doi.org/10.36489/saudecoletiva.2022v12i73p9547-9562
Almeida-Filho, N., Lessa, I., Magalhães, L., Araújo, M. J., Aquino, E., James, S. A., & Kawachi I. (2004). Social inequality and depressive disorders in Bahia, Brazil: interactions of gender, ethnicity, and social class. Social Science & Medicine, 59(7),1339-1353. https://doi:10.1016/j.socscimed.2003.11.037
Andrade, A. P. M. (2014). (Entre)laçamentos possíveis entre Gênero e Saúde Mental. In V. Zanelo & A. P. M. Andrade (Orgs.), Saúde Mental e Gênero: Diálogos e Interdisciplinaridade (pp. 59-77). Appris.
Araújo, T. M., Pinho, P. S., & Almeida, M. M. G. (2005). Prevalência de transtornos mentais comuns em mulheres e sua relação com as características sociodemográficas e o trabalho doméstico. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, 5(3), 337-348. https://doi.org/10.1590/S1519-38292005000300010
Barbosa, V. S., Rabelo, D. F., & Fernandes-Eloi, J. (2020). Indicadores de Saúde Mental e do Clima Familiar de Idosas Negras Matriarcas. Revista de Psicologia da IMED, 12(2), 94-107. https://doi.org/10.18256/2175-5027.2020.v12i2.3599
Bento, M. A. S. (2014). Branqueamento e Branquitude no Brasil. In I. Carone & M. A. S. Bento (Orgs.), Psicologia Social do Racismo: Estudos sobre Branquitude e Branqueamento no Brasil (pp. 25-58). Vozes.
Biroli, F. & Miguel, L. F. (2015). Gênero, raça, classe: opressões cruzadas e convergências na reprodução das desigualdades. Mediações - Revista de Ciências Sociais, 20(2), 27-55. https://doi.org/10.5433/2176-6665.2015v20n2p27
Bromberger, J., Harlow, S., Avis, N., Kravitz, H., & Cordal, A. (2004). Racial/ethnic differences in the prevalence of depressive symptoms among middle-aged women: The Study of Women's Health Across the Nation (SWAN). American journal of public health, 94(8), 1378-1385. https://doi.org/10.2105/AJPH.94.8.1378
Campos, I. & Zanello, V. (2017). Sofrimento psíquico, gênero e violência: narrativas de mulheres atendidas em um Centro de Atenção Psicossocial II (Caps II). In C. Stevens, S. Oliveira, V. Zanello, E. Silva, & C. Portela (Orgs.), Mulheres e violências: interseccionalidades (pp. 505-522). Technopolitik.
Cohen, J. (2013). Statistical Power Analysis for the Behavioral Sciences. Routledge Academic.
Collins, P. & Bilge, S. (2020). Interseccionalidade. Boitempo.
Corsino, D. L. M., Verceze, F. A., & Cordeiro, S. N. (2022). "Minha cor não desbota, não deixa se abater por qualquer coisa": o hiato entre força e sofrimento em histórias de mulheres negras. Revista Subjetividades, 22(1), 1-14. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v22i1.e11777
Costa, E. S. & Schucman, L. V. (2022). Identidades, Identificações e Classificações Raciais no Brasil: O Pardo e as Ações Afirmativas. Estudos e Pesquisas Em Psicologia, 22(2), 466-484. https://doi.org/10.12957/epp.2022.68631
Erving, C., & Smith, M. (2021). Disrupting Monolithic Thinking about Black Women and Their Mental Health: Does Stress Exposure Explain Intersectional Ethnic, Nativity, and Socioeconomic Differences?. Social Problems, 69(4), 1046-1067.https://doi.org/10.1093/SOCPRO/SPAB022.
Erving, C., Thomas, C., & Frazier, C. (2018). Is the Black-White Mental Health Paradox Consistent Across Gender and Psychiatric Disorders?. American Journal of Epidemiology, 188, 314-322. https://doi.org/10.1093/aje/kwy224
Ettman, C., Cohen, G., Abdalla, S., & Galea, S. (2020). Do assets explain the relation between race/ethnicity and probable depression in U.S. adults?. Plos One, 15(10), e0239618. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0239618
Góes, J. M. (2022). Reflexões sobre pigmentocracia e colorismo no Brasil. Revista Relações Sociais, 5(4), 14741–01i. https://doi.org/10.18540/revesvl5iss4pp14741-01i
Goldberg D.P., & Huxley P. (1992). Common mental dis¬orders: a bio-social model. Tavis¬tock/Routledge.
Gonçalves, D. M., Stein, A. T., & Kapczinski F. (2008). Avaliação de desempenho do Self-Reporting Questionnaire como instrumento de rastreamento psiquiátrico: um estudo comparativo com o Structured Clinical Interview for DSM-IV-TR. Caderno de Saúde Pública, 24(2), 380-90. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2008000200017
Haukoos, J. S., & Lewis, R. J. (2005). Advanced statistics: Bootstrapping confidence intervals for statistics with “difficult” distributions. Academic Emergency Medicine, 12(4), 360-365. https://doi.org/10.1197/j.aem.2004.11.018
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2021). Estatísticas do Registro Civil: Boletim Especial de 8 de março – Dieese com dados do IBGE – PnadC. https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9110-estatisticas-do-registro-civil.html
Jones, M., Womack, V., Jeremie-Brink, G., & Dickens, D. (2021). Gendered Racism and Mental Health among Young Adult U.S. Black Women: The Moderating Roles of Gendered Racial Identity Centrality and Identity Shifting. Journal Sex Roles, 85, 221-231. https://doi.org/10.1007/s11199-020-01214-1
Lago, M. C. S., Montibeler, D. P. S., & Miguel, R. B. P. (2023). Pardismo, Colorismo e a “Mulher Brasileira”: produção da identidade racial de mulheres negras de pele clara. Revista Estudos Feministas, 31(2), e83015. https://doi.org/10.1590/1806-9584-2023v31n283015
Lo, C., & Cheng, T. (2018). Social Status, Discrimination, and Minority Individuals’ Mental Health: a Secondary Analysis of US National Surveys. Journal of Racial and Ethnic Health Disparities, 5, 485-494. https://doi.org/10.1007/s40615-017-0390-9.
Mizael, T. M., Barrozo, S. C. V., & Hunziker, M. H. L. (2021). Solidão da Mulher Negra: uma revisão da literatura. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), 13(38), 212-239. Recuperado de https://abpnrevista.org.br/site/article/view/1270
Munanga, K. (2019). Rediscutindo a Mestiçagem no Brasil: Identidade nacional versus identidade negra. Vozes.
Pimentel, P. L. B., Silva, J., & Saldanha, A. A. W. (2023). Transtornos Mentais Comuns, distress, ansiedade e depressão em idosos brasileiros no contexto da COVID-19. Estudos De Psicologia (Natal), 27(2), 137–145. https://doi.org/10.22491/1678-4669.20220013
Rabelo, D. F., Silva, J., Rocha, N. M. F. D., Gomes, H. V., & Araújo, L. F. (2018) Racismo e envelhecimento da população negra. Revista Kairós, 21(3), 193-215.
Rosen, D., Tolman, R., Warner, L., & Conner, K. (2007). Racial Differences in Mental Health Service Utilization Among Low-Income Women. Social Work in Public Health, 23, 105-89. https://doi.org/10.1080/19371910802151747
Santos, G. B. V., Alves, M. C. G. P., Goldbaum, M., Cesar, C. L. G., & Gianini, R. J. (2019). Prevalência de transtornos mentais comuns e fatores associados em moradores da área urbana de São Paulo, Brasil. Cadernos De Saúde Pública, 35(11), e00236318. https://doi.org/10.1590/0102-311X00236318
Santos, K. O. B., Araújo, T. M., & Oliveira, N. F. (2009). Estrutura fatorial e consistência interna do Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20) em população urbana. Cadernos de Saúde Pública, 25(1), 214-222. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2009000100023
Santos, M. P. A. D., Nery, J. S., Goes, E. F., Silva, A. D., Santos, A. B. S. D., Batista, L. E., & Araújo, E. M. D. (2020). População negra e Covid-19: reflexões sobre racismo e saúde. Estudos Avançados, 34(99), 225-244. https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2020.3499.014
Santos, N. R. P., & Rabelo, D. F. (2022). Racismo e eventos produtores de estresse: narrativas de pessoas idosas negras. Ciencias Psicológicas, 16(2), e2494. https://doi.org/10.22235/cp.v16i2.2494
Senicato, C., Azevedo, R. C. S., & Barros, M. B. A. (2018). Transtorno mental comum em mulheres adultas: identificando os segmentos mais vulneráveis. Ciência & Saúde Coletiva, 23(8), 2543-2554. https://doi.org/10.1590/1413-81232018238.13652016
Silva, A. (2019). Aging from the perspective of racism and other forms of discrimination: influences of institutional and structural determinants on the lives of older adults. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 22(4), e190210. https://doi.org/10.1590/1981-22562019022.190210
Silva, M. R. F. (2016). Envelhecimento e proteção social: aproximações entre Brasil, América Latina e Portugal. Serviço Social & Sociedade, 126, 215-234. https://doi.org/10.1590/0101-6628.066
Smolen, J. R., & Araújo, E. M. (2017). Raça/cor da pele e transtornos mentais no Brasil: uma revisão sistemática. Ciência & Saúde Coletiva, 22(12), 4021-30. https://doi.org/10.1590/1413-812320172212.19782016
Tobin, C., Erving, C., Hargrove, T., & Satcher, L. (2020). Is the Black-White mental health paradox consistent across age, gender, and psychiatric disorders?. Aging & Mental Health, 26, 196 - 204. https://doi.org/10.1080/13607863.2020.1855627.
Valença Neto, P. F., Santos, L., Rodrigues, S. C., Almeida, C. B., & Casotti, C. A. (2023). Prevalência e fatores associados à suspeição de transtornos mentais comuns em idosos: um estudo populacional. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 72(2), 100-110. https://doi.org/10.1590/0047-2085000000410
Vieira, P. P. F., Paz, H., Fernandes, C., Silveira, L. S., & Bicev, J. T. (2023). Envelhecimento e desigualdades raciais. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento Cebrap, 9-52. https://cebrap.org.br/wpcontent/uploads/2023/06/desigualdades_envelhecimento_relatorio.pdf
Zanello, V. (2018). Saúde mental, gênero e dispositivos: cultura e processos de subjetivação. Appris.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Copyright (c) 2024 Bianca de Queiroz Soares, Doris Firmino Rabelo, Simone Seixas da Cruz